Prosperidade ao Custo de Nossas Vidas
Por esses dias, o colapso de uma geleira soterrou em minutos a aldeia suíça de Blatten. Há um ano, uma inundação sem precedentes destruiu em pouquíssimos dias quase todo o estado do RS.
Qual a diferença entre esses episódios? Um foi em país pequeno, de elevada instrução, estrutura e senso de responsabilidade política. Outro, num país gigante, com desafios educacionais, estruturais e políticos imensuráveis de tão grandes. No primeiro, a população, seus animais e bens foram evacuados em tempo seguro e novo destino negociado coletivamente, minimizando os danos. No segundo, mais que nada, Deus e uma louvável rede instantânea de solidariedade entrou em ação para socorrer o possível, deixando um lastro de muita dor e prejuízos de toda ordem para trás.
Qual a semelhança? A emergência climática, que está na origem de ambas catástrofes e milhares mais que temos visto, colocando nossas vidas numa corda bamba onde até os melhores equilibristas são derrubados a toda hora.
Enquanto isso, prevalece a ideia de que podemos impor mais ritmo à corda, impulsionando negócios como se numa festa à meia-luz, em transe e sob sedutores cifrões cintilantes que prometem prosperidade absoluta e o mais lindo progresso. Assim, defende-se a flexibilização máxima de licenciamentos ambientais com a PL 2159, ridiculariza-se a Ministra Marina, maquiam-se dados sobre o Pampa, apresentando redução de desmatamento como sinônimo de preservação campestre e igualando a feição homogênea do pasto cultivado com a rica biodiversidade e serviços ecossistêmicos do nativo, entre tantas outras alucinações de festeiros pondo em risco a vida de todos nós.
Para eles, quem se opõe só pode ser retrógrado, sem noção e incompetente. Como se fartas contas os pudessem salvar do colapso. Como se estudos não comprovassem a correlação entre preservação ambiental, clima, paz e saúde. Como se prosperidade não fosse possível em termos mais sensatos e menos arriscados!
Lara Lutzenberger
Veiculado em ZH em 09.06.25
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