Dia do Índio, até quando?

Christian Lavich Goldschmidt*


Publicado no Jornal Correio do Povo de 21 de abril de 2006

 

Em 1910 foi criado o Serviço de Proteção Indígena, com o objetivo de integrar os índios à sociedade brasileira. A forma de integração proposta pelo SPI à época, acabou não acontecendo. Neste período, aqui no RS, foi o Instituto da Terra que dividiu e “deu” terra aos povos Kaingang e Guarani, sem intervenção do SPI. O Instituto da Terra formou os chamados “toldos” e ali assentou os índios. Para as comunidades Kaingang e Guarani, esse processo foi desastroso. Imaginem uma tribo que era nômade e vivia em ciclos na mata, tendo que viver em espaços diminutos, sem o direito de ir e vir; isto foi fatal para a cultura. O índio usufruía da floresta sem agredí-la, quando terminava o seu ciclo de moradia naquele espaço, queimava tudo e enterrava seus objetos, partindo em busca de outro ambiente.

Em 2005, a Fundação Gaia – Legado Lutzenberger, reuniu cerca de 10 líderes indígenas brasileiros, além de estudiosos e especialistas na causa, a fim de discutir e buscar soluções para os problemas que fazem parte das comunidades indígenas de nosso estado. De acordo com a líder Rosane Kaingang, os espaços destinados aos povos indígenas, posteriormente, com o avanço da colonização, foram sendo reduzidos, de forma que os Guarani têm hoje 10 hectares na Lomba do Pinheiro, e a maior reserva do RS pertence aos Kaingang, a Reserva da Guarita, com 24 mil hectares. Essas são as duas maiores áreas de nosso estado.

Afora a questão da terra, outro grande problema enfrentado pelas comunidades indígenas atualmente, é uma crise de identidade cultural, já que os mais jovens não sabem o que são e o que querem ser, se são brancos ou se são índios. Isso se dá,  segundo Rosane, porque para o jovem índio, ele não é branco mas se utiliza das coisas do branco. Ele está gostando de ter um walkman no ouvido e de usar o gorro da “Gang” na cabeça. Essas coisas entram para dentro de uma cultura; e, se o processo foi esse, perguntar para o Kaingang hoje, dentro de uma comunidade, se ele quer voltar ao que era antes, ele vai dizer: “Mas eu não tenho floresta, eu não posso viver primitivamente como era antes”.

Sem outros dados, lembro de um estudo realizado pela Unicamp, que apresenta um número de 32 mil Kaingang do Rio Grande do Sul até São Paulo. Isso me faz pensar que neste século XXI precisamos nos voltar para as questões indígenas, ou logo não teremos motivos para comemorar o Dia do Índio, como aconteceu no último 19 de abril.

 

*escritor e ator

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