Carta aos veranistas de Torres e de todas as praias litorâneas gaúchas

Porto Alegre, 11 de fevereiro de 2000

Aos veranistas de Torres e de todas as praias litorâneas gaúchas:

Quem, como eu, conheceu Torres em 45, quem lá trabalhou oito anos na década de 70, só pode estar profundamente decepcionado. O que á aconteceu é um escândalo, é uma tristeza. Se deixarmos correr livremente o curso que a Prefeitura e a Câmara de Vereadores promovem, Torres perderá em breve os últimos resquícios de seu inicial encanto. Se é para ver espigões amontoados sem a mínima preocupação com a fisionomia urbana, não preciso me arriscar em duzentos quilômetros de estrada, fico em Porto Alegre. E, que graça tem praias com quilômetros de sardinhas humanas enfileiradas.

Se quisermos resolver os mais sérios problemas de nossas praias, tais como o câncer da especulação imobiliária desenfreada, teremos que promover uma reforma política. Poucos se dão conta da distorção política existente:

A quase totalidade dos impostos territoriais é paga pelos veranistas que lá tem casa, mas que não tem voto nas eleições municipais. Quem elege os prefeitos e os vereadores são pequenos grupos locais que se aliam às empresas imobiliárias e que chegam ao poder com o voto da população rural, populaçao esta que, em geral, mal se dá conta do que está acontecendo e que não tem nenhum sentimento quanto à estética urbana e a qualidade recreativa que o veranista procura, querem ver, isto sim, crescimento e movimentação máxima.

Esta situação tem que mudar. Ou se permite o voto municipal para quem tem casa e paga IPTU local, independentemente de ter outro voto municipal em sua cidade de residência permanente, sem tocar, é claro, seu voto estadual e federal, que continuará sendo único. Teríamos outro tipo de prefeito e de vereadores, portanto, outro tipo de administração nas praias. Os enfoques seriam outros, haveria também muito menos oportunidade para a corrupção.

Ou, se a Constituição Federal e a estadual não permitirem ainda, teremos que estruturar logo fortes entidades civis (ONGs), ativas e agressivas, para controle das administração pública em defesa dos direitos dos veranistas. Democracia só funciona debaixo para cima, se o cidadão participar ativamente.

Espero que aqueles que amam Torres se movimentem.

Dou todo meu apoio aos que já iniciaram a luta, como no caso da Associação de Condomínio da Praça João Neves da Fontoura e todos os demais.

Muito sucesso

José A. Lutzenberger

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