Até 2050, querido Lutz 

 

Mundialmente respeitado, tanto por suas convicções conservacionistas quanto por sua luta em favor de uma melhor qualidade de vida, o ambientalista gaúcho José Lutzenberger morreu como um ícone do nosso tempo: apagando incêndios, semeando vidas e deixando paixões. Ao longo de várias décadas foi incansável defensor da implementação de um desenvolvimento sustentável no Brasil, particularmente no campo da agricultura orgânica. Também foi um grande incentivador do uso dos recursos renováveis, com ênfase nas novas tecnologias voltadas para a energia, tanto solar e eólica quanto de biomassa. 

 

No campo político, alertou incansavelmente para as armadilhas da globalização, denunciando o perigo que ela representa para a humanidade, nos níveis ecológico e social.

Além de ter escrito livros de grande importância para a melhor compreensão do ambientalismo brasileiro e mundial, Lutzenberger sempre foi um colaborador incondicional de publicações alternativas, como é a revista ECO•21. É importante lembrar aqui que a primeira matéria da edição Nº “0” da ECO•21 (na época chamada ECO-RIO) foi o seu discurso proferido na Floresta da Tijuca, protestando contra a devastação e ensinando às pessoas como ser parte fundamental no processo da recuperação e no reflorescimento dos ecossistemas. Nessa ocasião conclamou o Brasil todo a participar da RIO’92.

Nas nossas páginas ele já publicou sua transcendental palestra proferida na sede do PNUMA, em Nairóbi, em 29 de Agosto de 1990, quando defendeu o Brasil para ser o país-sede da “Conferência do Rio”. Nesse memorável texto, Lutzenberger explicitou de forma aprofundada as razões pelas quais o mundo deveria se reunir no Brasil. Também nos honrou com a publicação das duas versões de GAIA, seu trabalho teórico mais famoso, entre outros escritos não menos importantes.

Fundador da “Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural”, dedicou grande parte da sua vida a formar discípulos ambientalistas, mesmo entre aqueles que não tinham conhecimento algum sobre meio ambiente, gerando um dos mais importantes movimentos ambientalistas do Cone Sul. Nos últimos anos de sua vida concentrou seus esforços, atividades e conhecimentos na “Fundação Gaia”, instituição que fundou em Porto Alegre e que viria a se transformar numa espécie de Jardim de Epicuro gaúcho.

Publicando nesta edição  de número 66 (Maio 2002) o texto “Temos ou não Futuro?” escrito em 1996, a revista ECO•21 lhe rende uma justa e muito merecida homenagem. Querido Lutz, aqui todos estaremos esperando, ansiosamente, que se realize o seu desejo: retornar à nossa querida Gaia no ano 2050.

Gaia Viverá!

René Capriles e Lúcia Chayb
Editor e Diretora da Revista ECO•21
www.eco21.com.br
eco21@eco21.com.br

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