Ensinamentos de Jean-Michel Cousteau

Foi com alegria e tristeza, que comentei a palestra de Jean-Michel Cousteau no Ciclo de Palestras Fronteiras do Pensamento.

Alegria pela sensibilidade com que expôs a riqueza da água, ou melhor dizendo, da nossa Terra composta por muita água. Cenas familiares foram intercaladas com achados científicos que comprovam as mudanças climáticas em curso e a interdependência de humanos, golfinhos, árvores e tudo o mais que a natureza é capaz de criar. Encontros inquietantes, como o da filha, Celine, com um jacaré selvagem, mas totalmente pacífico, desmistificaram e escancararam nossa ignorância preconceituosa em relação às demais espécies. Ao final, baleias desacinturadas deixaram-nos atônitos ao movimentarem-se na leveza de um balé. 

Tristeza pela brutalidade humana, expressa em indígenas com doenças incuráveis devido ao contato com óleos e metais pesados, e na menção às inúmeras criaturas que pagam com suas próprias vidas o preço de nossas extravagâncias consumistas, como no vazamento incessante de petróleo no golfo do México. Também, pela velocidade com que se dá a colonização humana irresponsável em uma das áreas mais primordiais para o equilíbrio planetário, a Amazônia, onde nos anos 80 Jean-Michel peregrinava solitário por dias e hoje não passa horas sem deparar-se com alguma comunidade. 

A água é o inicio e o fim de tudo. Somos 70% água e a composição de sais em nossos tecidos é a mesma do aquário original que deu origem à Vida há 3,5 bilhões de anos. E, o visível e o invisível, o inofensivo e o tóxico, que lançamos em nossos lares, indústria e agricultura, são por ela circulados por todos os recantos desse nosso mundo sem cantos, porém cheio de frágeis encantos.

Mas, da mesma forma como a água tem uma capacidade ímpar de circulação de elementos, criamos ferramentas excepcionais de comunicação de dados, talvez capazes de mobilizar nosso batalhão de 7 bilhões de humanos, como defensores da água, do planeta e suas múltiplas vidas. Assim como a água espelha o cosmos em sua superfície, nossas ações se refletem nas profundezas do sistema hídrico e terrestre que integramos. Pesca predatória; flexibilização do código florestal; substâncias nocivas; desperdício; essas e outras opções apenas nos conduzirão ao naufrágio da humanidade.

Lara Lutzenberger

Julho de 2010

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