Complexo Cultural

 

A cultura, die Kultur, the culture, ... Surpreende a identidade ortográfica, não obstante tratar-se de línguas e culturas diferentes! Aliás, não somente são distintos os traços culturais que identificam cada povo, como também são diferentes os que caracterizam épocas, e diferentes são os significados que atribuímos a  c u l t u r  a.

 

Em sua interpretação mais ampla, compreende o conjunto de valores morais, de hábitos, de crenças e de formas de expressão que dão unidade e identidade a um coletivo.

Mas podemos, também, limitar sua abrangência semântica à face artística ou ritualística das sociedades. Projetos de fomento à música, teatro, artes plásticas, dança, resgate de ritos, são típicos projetos culturais.

Erudição é um significado adicional atribuído à palavra. Uma pessoa culta é percebida como uma pessoa esclarecida, que se destaca na amplitude de seus conhecimentos e experiências. 

 

Na verdade, não se trata tanto de significados diferentes, mas de compreensões mais ou menos abertas. Os rituais e as artes, apesar de não resumirem a complexidade cultural em si, expressam criativa e intuitivamente, a essência de um tempo e de uma sociedade, adotando formatos e linguagens condizentes com o seu momento.

Daí também a percepção disseminada de que culto, não é aquele coerente com sua cultura, mas, sim, aquele que percebe e partilha sua dimensão maior.  

 

Uma dimensão cuja amplitude só deveria crescer na diversificação de adaptações e interpretações humanas a diferentes realidades sócio-ambientais evolutivas, ou seja, carentes de sempre novas adaptações e interpretações, que se somam no espaço e no tempo. E nem só humanas: abelhas, algas, até mesmo bactérias, têm sua própria cultura – mais rudimentar, é certo, mas não é por nada que falamos em ‘caldo de cultura’, quando nos referimos às condições que devemos atentar para procriar outras espécies!

 

Mas existe a possibilidade também de, sim, reduzirmos sua dimensão potencial, equiparando diferentes culturas, não somente em sua ortografia, como em sua expressão, através da crescente globalização homogeneizadora. Ao final, cultura, Kultur, culture podem se igualar em uma única expressão mercantilista e se consumir mutuamente.

Seria o fim da cultura, ou melhor, o fim do mundo!

 

Junho de 2006

Lara Lutzenberger

Fundação Gaia – Legado Lutzenberger

 

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