LUÍS CARLOS EVANGELISTA
(Geólogo Ambientalista)
Presidente do Partido Verde / Camaquã

QUARTA-FEIRA, 15 DE MAIO DE 2002
Lutz pela vida

 

Se os pássaros pudessem falar, hoje iriam chorar; se o vento parasse de soprar, hoje iria chorar; se o sol parasse de brilhar, hoje iria chorar. Chorariam pela vida, pela vida de um homem que defendeu sua própria vida e a vida do planeta Terra e assim partiu José Lutzenberger para a eternidade. Um incansável defensor da natureza, que passou de louco a Ministro do Meio Ambiente, de irreverente a premio Nobel, respeitado por uma bandeira empunhada durante toda uma vida e depois de muito lutar pela sobrevivência dos homens aqui na Terra, partiu para habitar um novo ecossistema, o ecossistema dos céus.

 

Parece ironia do destino, pois quem tanto lutou pela preservação da qualidade do ar, agora não poderá usufruir deste benefício sagrado. No momento em que mais precisou de um ar puro, seu pulmão não mais o teve, talvez porque sua missão terrena estivesse cumprida e é chegada a hora de colher os frutos daquilo que plantou.

 

Independente das premissas ambientais, sua missão parece que tomou uma abrangência que hoje ainda não conhecemos, mas imaginamos que o legado deixado por José Lutzenberger para nossa geração e para as que virão, será tão importante quanto as flores é para o beija-flor, o mar para os golfinhos, os banhados para as capivaras.

 

Hoje nos despimos de todos os preconceitos para render homenagens ao Cidadão Gaia, o Homem da Terra, aquele que de tanto lutar por ela, preferiu, em seu último desejo, ser eternamente abraçado por ela, representado um gesto de carinho, respeito e um pedido de perdão. Perdão por nos omitirmos, por nos calarmos e por aceitar pacificamente os desmandos dos homens.

 

Há momentos em que nos sentimos tão frágeis que procuramos amparo e braços fortes de alguém que nos proteja. Neste momento a Terra estará se perguntando: por onde andará Lutzenberger? No Pantanal, na Antártica ou no Taim? Não, em nenhum lugar destes, está tomando chimarrão no Rincão Gaia, sonhando com o pôr-do-sol do Guaíba regado por uma brisa com cheiro da mata virgem do Planeta Terra.

 

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