AUGUSTO EBLING
TAQUARA, SEXTA-FEIRA, 17 DE MAIO DE 2002
José Lutzenberger

 

     Há acontecimentos em nossa vida, tão marcantes que se transformam em lembranças inesquecíveis, somente compreendidos por aqueles que os vivenciaram. Assim foi o acontecido dia quinze último durante os funerais de um homem mundialmente conhecido e reverenciado como uma das grandes mentes preocupadas com a vida, com o ambiente, com o planeta terra, este, uma ilha de vida em meio a um universo de energia.

     Quem conheceu José Antônio Lutzenberger, o Lutz como era chamado pelos mais próximos, teve que se esforçar para acompanhar o raciocínio do cientista e despojar assim entendendo a grandiosa natureza na qual e da qual vivemos e somos parte integrante e indissociável.

     Às onze horas, partindo  do prédio central do Rincão Gaia em Pantano Grande, em uma manhã abafada, o cortejo fúnebre cumpriu o pré-determinado por Lutz, em um percurso de aproximadamente trinta minutos até o local do sepultamento em meio a um bosque de eucaliptos. O corpo de Lutz foi devolvido à natureza, em uma cova simples, envolto apenas por um pano de linho, exemplificando aí, com singularidade, que o grande mestre demonstra, mais uma de suas  lições, pois segundo ele "quando a vida não mais existe os elementos que compõem o corpo morto  devem reitegrar-se ao ambiente para que o processo vital tenha continuidade".

     Foi neste momento que a natureza em conjunto maniferstou-se de forma tão grandiosa e comovente, determinando os acontecimentos, como em um rito de passagem,  onde um corpo exaurido pela vida transcende a uma nova realidade, mostrando que é possível e necessário que o homem viva em harmonia com todos os seres deste planeta. Uma linha de fogo riscou o céu como se fosse o sinal para o início do grande espetáculo e após alguns segundos um único trovão fez tudo estremecer como um soluço profundo e comovente da natureza e, em poucos instantes as lágrimas copiosas do universo caíram sobre Gaia, juntamente com um forte vento como se os pulmões da terra liberassem toda a sua energia, fazendo com que o arvoredo se curvasse em reverência ao grande fato. Como se já não bastasse a participação ativa dos quatro elementos , ouso dizer que o quinto apresentou-se sob a forma de uma grande árvore, também já morta, que tombou decepada pela base ao embate dos elementos, caindo paralela junto ao sepultado reiterando os ensinamentos do grande ambientalista.

     A estranha cumplicidade entre os reinos da natureza induzem-me a estas observações que sugerem a inclusão deste grande espírito à essência de Gaia.

 

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